O texto a seguir, retrata a experiencia de um estagiário em um estúdio de animação, o texto abaixo foi autorizado pelo criador, que postou originalmente no site medium.com, espero que gostem e tiram bastante proveito dessa experiencia, o texto esta na integra sem nenhuma alteração !
Como foi estagiar em um estúdio de animação.
Eu passei meses (inclusive dentro do estágio) pensando em como iria compartilhar a minha experiência com as pessoas. E de antemão, parece uma ideia bastante pretensiosa você achar que poucos, muitos ou todos, irão se importar com o que você tem pra dizer, porém, o que aprendi com o meu amigo Nepô, é que devo deixar as pessoas acharem o que quiserem achar, ao invés de criar uma imagem preconceituosa de mim mesmo.A dificuldade desse texto, começou pelo título.
Como abordar essa experiência?
São as experiências que fazem de nós o que somos.Jason Silva, artista e filósofo, criador do Shots of Awe, acredita que a experiência muda a biologia. Que algo conhecido como “genética épica” pode pegar todos os tipos de experiência que vivemos e mudar a forma como a sua estrutura genética se expressa, assim aumentando a nossa capacidade cognitiva para nossos sucessores.
Joseph Cooper, o piloto espacial do filme Interestelar, diz que “o amor é a única coisa que somos capazes de perceber que transcende as dimensões de tempo e espaço” .
Acredite você nisso ou não, eu acredito.
Pensando assim, eu não poderia chamar esse texto de “como é estagiar em um estúdio de animação”. Porque eu não sei como vai ser a sua experiência. Isso se você não for direto para um cargo fixo.
Outra coisa que PRECISO deixar clara, é que eu não resolvi escrever um texto para falar bem ou mal das pessoas conheci. O que eu quero, é desmistificar para alguns, o que para mim era um mito.
Uma pausa para agregar.
No meu primeiro texto, eu escrevi um pouco sobre meritocracia e como ela não funciona 100%.Só para recapitular: Meritocracia é um sistema que acredita que o sucesso vem EXCLUSIVAMENTE do mérito e que qualquer um pode alcançar o sucesso. Hm sei!
Não é em todas as áreas do mundo que ela funciona, e me arrisco a dizer que nem em 90% das vezes ela funciona 100%. Isso falando dentro de uma empresa. Fora dela a gente sabe que a realidade é totalmente diferente.
Antes que você me pergunte o motivo pelo qual eu não acredito nisso, eu vou te dizer: Agregar valor, meu amigo, é o que faz de você quem você é.
Precisa de uma explicação mais clara? Eu posso te dar uma muito boa!
Uma empresa está precisando de um programador mediano que tenha noção de design.
Você é um programador de talento inquestionável. No entanto, você não sabe nada de design.
Neste caso, não importa a escolaridade ou nível de experiência do outro candidato, pois ele agrega valor e você não!
E veja bem, isso de forma alguma quer dizer que você é ruim, imprestável ou qualquer adjetivo negativo. Significa apenas que o seu lugar não é naquele lugar.
O mundo profissional é como uma estrutura feita de LEGO. E você é uma peça.
Só precisa ser encaixado no lugar certo e tudo irá fluir bem.
Como eu cheguei lá?
No primeiro texto, eu comentei que comecei a trabalhar com vídeo com 16 anos. Eu fazia tudo que aparecia: Captação, edição, finalização, motion, etc. Mas sempre como freelancer.O começo da vida de um freelancer é trabalhar diariamente captando clientes, inventando formas de mostrar o seu trabalho e de se mostrar. Afinal, é você sozinho.
Passei 3 anos fazendo isso, para que ao final dessa etapa eu pudesse encontrar o Zé Almeida.
Zé Almeida é nome de cara fod@, fala aí?
O Zé fez Melies também! E lá ele conheceu o Léo, um grande amigo nosso que eu também mencionei no primeiro texto.
Ele estava abrindo um estúdio de animação: A Animuz (ele chama de produtora e eu de estúdio).
Quando o Zé estava precisando de estagiários, ele postou a vaga na internet, bem como falou para os seus amigos. Sendo um deles, o Léo.
A vaga requeria alguém que não tivesse muitas limitações. Saber um pouco de vídeo, After e um pouco de 3D.
Nós temos aqui duas pessoas com necessidades. Ele precisava de um estagiário e eu precisava de experiência. Mas quem uniu o útil ao agradável foi o Léo!
Na época eu havia acabado de terminar o primeiro semestre da faculdade.
Agregar valor é muito importante! Mas é impossível agregar valor se você não trabalha duro!
Trabalhar duro é muito mais importante! Independente do que você estiver fazendo, faça com garra!
Não deixe as oportunidades passarem, porque uma hora elas que vão passar você.
Nesse momento eu estava encaminhado. A partir daí o que eu tinha que fazer era ser eu mesmo na entrevista. Mas independentemente disso, eu já tinha conseguido o contato.
E como eu entrei lá?!
O dia da minha entrevista foi um caos.
Tudo estava programado para que eu saísse com antecedência da faculdade e fosse para a entrevista.
Teria sido ótimo se o ônibus que me levaria para a próxima etapa da minha vida tivesse parado no ponto ao invés de passar direto e me dar “tchauzinho”.
Sim, isso é São Paulo.
Se teve uma coisa que eu aprendi desde cedo, foi a correr atrás dos meus objetivos. Mesmo que isso significasse correr de verdade.
Pois é! Eu não só fui a pé sem saber o caminho, como fui correndo!
Deve ter sido muito engraçado ver um cara correndo desesperado pela rua…
A entrevista foi muito bacana! Pelo que me lembro, foram cerca de 174 currículos enviados e quatro pessoas estavam de fato disputando a vaga.
Pasme você, eu era uma delas!
Mas acho que a coisa mais legal da entrevista foi o Zé ter dito que falaria comigo independente do resultado. Porque muitos de nós sabemos como é normal se candidatar à uma vaga de forma honesta e não ser nada correspondido.
Pois ele respondeu e eu não havia entrado.
Apesar de querer muito, eu sabia que ele tinha tomado a decisão certa e que certamente alguém muito mais preparado que eu tinha entrado.
Eu tinha 4 anos de experiência com vídeo, mas por mais que o meu esforço naqueles 5 primeiros meses no mundo do 3D tivessem sido intensos e às vezes um poucos desgastantes, eram apenas 5 meses estudando.
Só que a notícia do Zé veio carregada com um texto que revelaria que a próxima vaga seria minha.
Os meus olhos se encheram e eu guardo essa mensagem salva até hoje comigo. Foi o momento onde o mérito e o valor se encontraram com o Léo e com o Zé! Isso era demais!
A vaga, porém, seria talvez, quem sabe para o ano de 2016. E mesmo ansioso eu sosseguei.
A nossa surpresa foi que dois meses depois da data da entrevista, eu fui chamado! E lá eu conheci a Cris! Que foi quem entrou na primeira seleção!
Eu comecei a trabalhar exatamente quando o primeiro semestre acabou. E ao contrário do que muitos pensam, eu sabia que unindo a faculdade com o estágio, eu ia poder me munir de informação de uma forma que quem entra no mercado direto talvez não tenha a oportunidade de desfrutar. Porque o estagiário está lá para aprender.
Como é o trabalho de um estagiário?
Eu não sei! Hahaha! Nós nunca fizemos!
O Zé queria de fato que a gente aprendesse a fazer as coisas! Então nós trabalhávamos o tempo todo no que seria o produto final do cliente.
No meu primeiro dia fizemos uma reunião! Na mesa de reuniões!
Confesso, me senti muito importante naquela mesa.
Algumas semanas depois eu já estava almoçando nela. Mas o almoço é importante. O que deixa a mesa de reuniões mais importante ainda!
Eu acho que nos vi fazendo de tudo naquele estúdio!
Modelei, fiz textura, render, composição, cartela, e muito rig!
Acredito que a única vez que fiz um trabalho que seria considerado de estagiário, foi quando fui montar a impressora nova da Animuz…no banheiro.
A Impressora
Eu estava chegando na Animuz quando recebi uma mensagem do Zé, pedindo pra que eu desse uma arrumada em tudo, porque teríamos uma reunião às 14h.
Eu chegava as 14H! Corri como se não houvesse o amanhã!
O resumo da história é: Os cartuchos eram em tubos e nas instruções estava bem claro o tamanho da cagada que eu poderia fazer no chão de carpete de madeira DURANTE A REUNIÃO caso algo espirrasse.
Não teve outra. Banheiro.
Fiquei 40 minutos dentro do banheiro montando a impressora.
As dificuldades
No começo eu senti bastante dificuldade em algumas coisas.
Estudando é bastante comum você ouvir uma certa batalha entre softwares.
Max, Maya, XSI, cada um tem o seu preferido, e todos acham que estão certos.
Vou te dizer o que eu conheço pela experiência.
Trabalhando em estúdio de animação eu pude ver que é Maya. O Maya é mais fácil e mais completo para fazer animação de personagens.
O Max é mais usado para still e para animações que não têm personagens, pois para renderizar é mais sólido e tem uma gama de opções mais completa.
Só que isso não é algo exato!
A Blur por exemplo, faz tudo com Max e XSI. Alguns estúdios brasileiros também, como o Studio Z. Assim como muitos usam Maya pra fazer still.
Max, Maya, XSI, Modo, Cinema 4D, Blender, não importa o software! Você precisa se adaptar!
Quando eu entrei eu não sabia absolutamente nada de Maya. Eu só iria aprender Maya no segundo semestre, e eu tinha acabado de entrar nele.
E foi exatamente aí que as coisas começaram a funcionar!
A necessidade de usar Maya na faculdade e no trabalho, me fez ganhar agilidade com ele.
Pergunte qual software eu prefiro hoje e a minha resposta vai ser sempre a mesma: Não faz diferença!
Claro que os softwares têm diferenças, e que um faz algo determinado melhor que o outro. Aí está a sua oportunidade de mudar o workflow e tentar torná-lo o melhor possível na ferramenta que está usando.
Mas sem dúvidas a maior dificuldade que eu tive foi o Rig.
O rigging é o processo de criar o esqueleto do personagem e as expressões faciais, basicamente.
Eu não fazia a menor ideia de como rigar um personagem e o processo foi um pesadelo.
Eu tinha dificuldade de entender como funcionava e cada uma das etapas eu consegui fazer errado.
Houve uma época em que decidi ficar mais 1h no trabalho durante três semanas para poder estudar, testar e trabalhar no rig. Até que um dia me peguei as 22h30 da noite, o que era 2h30 a mais do meu horário de saída, olhando para o monitor enquanto chorava.
Disso tudo eu tirei duas lições:
1 — Se cobrar demais, uma hora vira doença. SÓ QUE NÃO SE COBRAR, TE TORNA VAGABUNDO.
2 — Assim como você precisa saber a hora de forçar o estudo, precisa saber a hora de dar tempo a ele em relação a você.
“Tente achar um meio termo. Nem vagabundo, nem psicopata.” — SR.K
Os trabalhos
Todos os trabalhos que realizei na Animuz foram de extrema importância para o meu aprendizado.
Originalmente eu fui chamado para trabalhar na série de animação da Animuz, Aster. Mas quando entrava job novo, o Aster ficava no standby.
Trabalhei na terceira campanha do estúdio para a Múltiplus que foi muito bacana pra mim; numa campanha da Decathlon para os canais GNT, OFF e SportTV e muito no Aster! Fiz a textura de quase todos os personagens, dos cenários do teaser, trabalhei em muitos testes de render e até riguei o Aster, mas o mérito dos rigs dos personagens é todo da Cris. Até porque foi ela que arrumou o rig do Aster.
E aí vai a parte mais legal da Animuz! Nós como estagiários, trabalhamos em muitos dos projetos FINAIS para os clientes!!
Então como foi a experiência?
Foi espetacular ter essa oportunidade. Sou completamente grato a cada uma das coisas que aconteceram lá dentro, as pessoas que conheci e as que sentaram na mesa de reunião, tudo que aprendi, o que desenvolvi e o que deixei de desenvolver para que os outros desenvolvessem.
Foi demais!
E agora?
Estagiar É fazer parte do mercado. Por causa dele eu comecei a ser considerado.
A atualização do meu portfólio de luz, textura e render somada aos trabalhos que realizei lá, me garantiram algumas coisas muito legais, dentre elas alguns freelas e a oportunidade de ampliar o meu networking.
Resumo da história
Converse, trabalhe muito, tome café e almoce com as pessoas. Construa o seu futuro. Eu posso te garantir que ele é possível!
Quem sou eu? Meu nome é Jorge Malheiro, tenho 20 anos, gosto de Star Wars, Tokusatsu, Strogonoff e estou louco pra te conhecer se quiser falar comigo!
Boa sorte em sua jornada, e que a força esteja com você :D
Autor do texto :
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Jorge Malheiro
Generalista 3D, empreendedor, músico e bom motorista :)
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